sábado, maio 27, 2006
Apreciar a arte sem lhe cobrar utilidade
Descobrir na gruta a cama de dormir
a sabedoria primitiva deve nos guiar
para além do que a ciência explora
há sempre o aroma do chá
Não devemos mais temer a deus
nem seguir profetas de ocasião
ou livros que outorgam poder
a homens escolhidos de antemão
para além do que a ciência explora
há sempre o aroma do chá
Não devemos mais temer a deus
nem seguir profetas de ocasião
ou livros que outorgam poder
a homens escolhidos de antemão
Vamos destruir os templos
e rezar na praça, aberta
e musicalmente, abraçar
uma árvore e adorar a nuvem.
Vamos usufruir das coisas
como coisas que são
vamos apreciar a arte
sem lhe cobrar utilidade.
Porém se servir o poema
para algo concreto, que seja
batido como gema e se torne
uma gemada revigorante
O que há entre nosso olhar e o mundo
cria um abismo entre nós e o mundo
Quando formos naturais como golfinhos
seremos quase passarinhos.
e rezar na praça, aberta
e musicalmente, abraçar
uma árvore e adorar a nuvem.
Vamos usufruir das coisas
como coisas que são
vamos apreciar a arte
sem lhe cobrar utilidade.
Porém se servir o poema
para algo concreto, que seja
batido como gema e se torne
uma gemada revigorante
O que há entre nosso olhar e o mundo
cria um abismo entre nós e o mundo
Quando formos naturais como golfinhos
seremos quase passarinhos.
quinta-feira, maio 25, 2006
Cartão de Cláudia Jussan sobre poema meu
http://funfantosh.blogspot.com
Manter as telhas sem tê-las mortas
as mães nossas e seus fiéis corações
limpar da vida corruptíveis paixões
sentir a liberdade nas insubmissões
Segui-las, rotas de paredes e portas
descobrir a morte como uma centelha
que voa do inferno ao paraíso infindo
sendo esse o nosso único objetivo
Alcançar a áspera e velha superfície
e nela roçar as costas como um cão
De repente as coisas boas fartas e nobres
sejam de um imenso baú de rimas pobres.
as mães nossas e seus fiéis corações
limpar da vida corruptíveis paixões
sentir a liberdade nas insubmissões
Segui-las, rotas de paredes e portas
descobrir a morte como uma centelha
que voa do inferno ao paraíso infindo
sendo esse o nosso único objetivo
Alcançar a áspera e velha superfície
e nela roçar as costas como um cão
De repente as coisas boas fartas e nobres
sejam de um imenso baú de rimas pobres.
Poema meu sobre cartão de Cláudia Jussan
Fazes isto para que eu me afaste
e minhas mãos perdem a utilidade
tocar-te é sentir minha suavidade
nudez, como vi num filme outro dia
imploras-me para eu não chegar
aquietar-me n'algum lugar comum
de modo que é preciso imediato
encaminhamento do próximo ato
minha mão aberta,
um triângulo equilátero,
sem teu corpo perece
servirá melhor gravada
ou tornada em mil mãos
entregues à humanidade
como o espólio de um coração
que deseja mais que sonhava.
e minhas mãos perdem a utilidade
tocar-te é sentir minha suavidade
nudez, como vi num filme outro dia
imploras-me para eu não chegar
aquietar-me n'algum lugar comum
de modo que é preciso imediato
encaminhamento do próximo ato
minha mão aberta,
um triângulo equilátero,
sem teu corpo perece
servirá melhor gravada
ou tornada em mil mãos
entregues à humanidade
como o espólio de um coração
que deseja mais que sonhava.
terça-feira, maio 23, 2006
Com a roça ante ti
Garoto high-tech do sertão
quilombo, cliques e lamparinas
nas electro noites, maromba
alambiques de energético e grifes
amigos sorridentes
mascarada falta
de informação
pele pintada à mão
caminhas pelas ruas
com a roça ante ti
mínimas expessões anglo-saxãs
deixam sensações de desejo e dó
após os trinta, a barriga cresce
lá se vai todo o investimento
em academia, vitamina e salão
ficam a toalha de crivo da avó
e jorge na lua com o dragão.
Redescoberto o Brasil
Lembranças da infância me trazem
crenças as quais eu devo rejeitar
por serem insuficientes à minha
auto-percepção de eminente pessoa
Ardente, plurisciente de minhas incapacidades
estou certa de que o meu pão é o seu pão
e nossos sangues contêm elementos iguais
embora sejamos na face dessemelhantes
E justo pela imagem dessemelhante, eu ouvia
"não crescerás como as demais pessoas
ou serás menos valiosa, ou mais fraca"
eu cri nessas palavras e me fiz pouca
Sobretudo agora que sinto intensa vontade
de estabelecer a minha própria verdade
eu me arrojo a me desenhar novamente
Posiciono-me diante de um espelho
beijo-me, calorosa, suficiente e febril
deste enlace eis redescoberto o Brasil.
crenças as quais eu devo rejeitar
por serem insuficientes à minha
auto-percepção de eminente pessoa
Ardente, plurisciente de minhas incapacidades
estou certa de que o meu pão é o seu pão
e nossos sangues contêm elementos iguais
embora sejamos na face dessemelhantes
E justo pela imagem dessemelhante, eu ouvia
"não crescerás como as demais pessoas
ou serás menos valiosa, ou mais fraca"
eu cri nessas palavras e me fiz pouca
Sobretudo agora que sinto intensa vontade
de estabelecer a minha própria verdade
eu me arrojo a me desenhar novamente
Posiciono-me diante de um espelho
beijo-me, calorosa, suficiente e febril
deste enlace eis redescoberto o Brasil.
sábado, maio 20, 2006
Porque hoje é meu aniversário
Eu acredito em tristeza
a alegria me contagia, todavia
tenho riso fácil e pela vida
eu sinto curiosidade.
Eu que pensei, admito,
que não chegasse até aqui
cheguei e se me sinto só
solto minha rédea e galopo
pelos campos de minha imaginação
pelos doces ares de minha infância
pelos bosques de minha humanidade
pelo seixo de minha fluida fantasia.
Meu touro, minha cadela
e o coelho meus companheiros.
Meu amor guarda Miguel arcanjo.
Depressa um pouco mais,
que não morri e envelhecerei.
Cara de amanhã, não de ontem
comer orgânico vegetarianismo.
tenho riso fácil e pela vida
eu sinto curiosidade.
Eu que pensei, admito,
que não chegasse até aqui
cheguei e se me sinto só
solto minha rédea e galopo
pelos campos de minha imaginação
pelos doces ares de minha infância
pelos bosques de minha humanidade
pelo seixo de minha fluida fantasia.
Meu touro, minha cadela
e o coelho meus companheiros.
Meu amor guarda Miguel arcanjo.
Depressa um pouco mais,
que não morri e envelhecerei.
Cara de amanhã, não de ontem
comer orgânico vegetarianismo.
Cartão de Cláudia Jussan sobre poema meu
Então diz por que tu não sais um pouco
por que não andas três quarteirões
leva a cachorra, ela gosta de andar
não vês, vive-se na vasta solidão
saber-te só é mais do que estares só
é perceberes que tua vida e morte
existem pela tua decisão, o curioso
explora a dom sem perguntar por quê
portanto, pega uma coisa na mente
faz tua opinião, cria o teu verbo
alça vôo pela escuridão, e só
a luz faz-se pelo teu olhar, sabe
todo teu querer é teu poder
se descobres que queres tu.
Eu tenho sido um homem vestido de coisas. Mas investido de inveções, antes das coisas. Lembro-me de quando mundo era uma palavra importante para a ciência.
segunda-feira, maio 15, 2006
Poema sobre cartão-postal de Claúdia Jussan
Alivia-me todos os meses a dor entranhada.
Garante-me um fluxo contínuo de sangue quentinho
macio, a jorrar pedacinhos do meu mês anterior.
Desde que para isso eu sinta nada, ainda que me abra,
e se eu desmaiar aliviada ou chorar, não faz mal
depois virá meu riso, minha libertação carnal.
Garante-me um fluxo contínuo de sangue quentinho
macio, a jorrar pedacinhos do meu mês anterior.
Desde que para isso eu sinta nada, ainda que me abra,
e se eu desmaiar aliviada ou chorar, não faz mal
depois virá meu riso, minha libertação carnal.
Dá-me um aspirador descomunal, a rastrear,
com olhos de dez mil sensores, e a arrancar,
com delicada mão, meu suplício hormonal.
Quero deitar-me a certa altura e de vez
livrar-me desta escravidão feminina,
das fincadas de meu ciclo menstrual.
quarta-feira, maio 10, 2006
hai kais seminais
Manter as telhas sem tê-las mortas
as mães nossas e seus fiéis corações
descobrir na gruta a cama de dormir
a sabedoria primitiva deve nos guiar
para elaborar mais de mil hai kais
debulhe cem baguinhos de feijão de corda.
Devagar
As certezas do poeta
fazem tremer um trovão
desviar correntezas
chegar antes ao mar
devagar
pequena presa
n sou de caçar
devagar
comigo, não deve
se preocupar
mas, consigo utilizo
provisão
enfada minha vontade
pelas ruas e estradas
onde transita a sua
ilustríssima vaidade
a maltratada cidade
malquista, desamada
vê-se n'outra retratada
sonífero e televisão
moral da colônia
falsa solidariedade
há que se achar bonito
tem que aplaudir, beijar
todos os rostos de cera
e transmitir ao alunado
esta técnica
nada
cinematográfica.
fazem tremer um trovão
desviar correntezas
chegar antes ao mar
devagar
pequena presa
n sou de caçar
devagar
comigo, não deve
se preocupar
mas, consigo utilizo
provisão
enfada minha vontade
pelas ruas e estradas
onde transita a sua
ilustríssima vaidade
a maltratada cidade
malquista, desamada
vê-se n'outra retratada
sonífero e televisão
moral da colônia
falsa solidariedade
há que se achar bonito
tem que aplaudir, beijar
todos os rostos de cera
e transmitir ao alunado
esta técnica
nada
cinematográfica.