domingo, setembro 25, 2005

Prosopopéia ciumenta


Pudera eu saber do passado aquilo que
somente uma pessoa sabe, a que viveu
determinado tempo, acompanhanda ou sozinha
num lugar, com céu, terra, ar, sombra, luz e cor

Quase prosa ciumenta, besteira
não se importe com minha voraz
vontade de falar falar falar
como uma vela num barco errante

Engendrar desconhecimentos é amar
espantar-se com o relógio despertador
mas só acordar quando ouvir um passarinho
ou dois

deixa para imaginar depois
e se viver a verdade for perder
o lindo de sua companhia
pro roberto, pra elza, ou pra bia

eu vou pensar quão doces foram
esses dias
e deixar de ser feliz, jamais.


MOZ - "Now i am a was".

domingo, setembro 18, 2005

OS AVISOS...(TERCEIRO)

Fernando Pessoa


Screvo meu livro à beira-magua
Meu coração não tem que ter
Tenho meus olhos quentes de água.
Só tu, Senhor, me dás viver.
Só te sentir e te pensar
Meus dias vacuos enche e doura.
Mas quando quererás voltar'?
Quando é o Rei? Quando é a Hora?
Quando virás a ser o Christo
De a quem morreu o falso Deus,
E a dispertar do mal que existo
A Nova Terra e os Novos Céus'?
Quando virás, ó Encoberto,
Sonho das eras portuguez,
Tornar-me mais que o sopro incerto
De um grande anceio que Deus fez?
Ah, quando quererás, voltando,
Fazer minha esperança amor?
Da névoa e da saudade quando?
Quando, meu Sonho e meu Senhor?


OUÇA COM NEY MATOGROSSO, POR AQUI

sexta-feira, setembro 02, 2005

Trecho de versão do capítulo Aqui começa esta história, pela Agenda 21 - Rio de Contas

A divisão do novo mundo


O calor em Salvador tornava a algazarra um alento para a dor de cabeça, provocada pelos longos dias de viagem. Os seus companheiros perambulavam pelas ruas, a cachaça lhes fazia companhia. As negras e bugras de sua comitiva eram guardadas com cuidado, para não se tornarem presas fáceis de aventureiros e homens de má conduta, porém era comum umas três ou quatro engravidarem durante a viagem. (não era comum as mulheres viajarem na tropa e sim, ocorria o “namoro” nas localidades onde passavam, era mais comum acontecer nas fazendas onde a condição de tropeiro, assim como de “caixeiro viajante” e sabedores das coisas, gerava um fascínio e atração de homens e mulheres)

Os sotaques dos estrangeiros no porto, as roupas extravagantes das senhoras, a despeito do calor, e toda aquele barulho faziam de Rio de Contas um paraíso em sua memória. No entanto, estar no porto significava o contato com as notícias que vinham do Rio de Janeiro e da Europa, com os modismos e movimentos culturais. Apesar do barulho, o Porto era fonte incessante de novidades e isso lhe era agradável.

Policarpo, certa vez, em 1830, logo que iniciou suas viagens ao litoral, sentou-se num banco próximo ao cais, para apreciar a paisagem de barcos e diferentes tipos humanos, brasileiros e estrangeiros. Por cerca de uma hora, ouviu uma conversa entre dois homens bem vestidos e de gestual aristocrático. A imagem de um grande barco lhe ajudara a mergulhar nas palavras ditas pelos dois estranhos. Eles falavam sobre como Portugal e Espanha dividiram o novo mundo, no século XV. Policarpo se lembrou das lições de história na escola, às quais nunca prestou suficiente atenção. O conteúdo desta conversa passeava pela sua cabeça.

Em 1494, Espanha e Portugal dividiram o Novo Mundo entre si, por meio do tratado de Tordesilhas. Ele estabelece uma divisão entre somente estes dois estados signatários, tendo como linha divisória o meridiano localizado a 370 léguas (1770 km) a oeste das ilhas do Cabo Verde. Este Tratado buscou resolver os conflitos em torno da descoberta das novas terras por Cristóvão Colombo, dois anos antes. Esta configuração geopolítica perdurou até 22 de abril de 1529, quando foi assinado o tratado de Saragoça, que define nova localização ao meridiano, desta vez tendo como referência o arquipélago de Molucas. O fato que deflagrou esta mudança foi a travessia, pelo hoje conhecido Estreito de Magalhães, até o Oceano Pacífico, pelo espanhol Fernão de Magalhães, em 1522.

Este novo tratado ainda privilegiou os portugueses, porém incluiu Holanda e compensou financeiramente a Espanha, que perdeu um pouco do seu domínio sobre terras americanas. Presume-se que, a partir deste novo tratado, a colonização tenha alcançado bases mais amenas.

A exploração portuguesa, contudo, se deu desordenadamente no Brasil. A ausência de controle da Coroa, somada à desastrosa política de doação de terras a burgueses e bandeirantes, relegou à colônia a função de preencher cofres privados e, por meio destes, os cofres públicos portugueses, com os muitos recursos advindos das grandes fazendas que cultivavam cana-de-açucar e exportavam madeira, especialmente a partir do século XVII.

A cada nova Bandeira, novas preciosidades eram encontradas. Muitos povos indígenas, no intuito de escapar da fúria portuguesa, aderiram a expedições para exploração do interior. Entre os séculos XVI e XVII, os povos nativos eram obrigados a escolher entre a morte e a escravidão nas lavouras, bandeiras ou minas. Relutantes ao trabalho forçado, foram, aos poucos, perdendo lugar na escala da servidão compulsória para os africanos, que começaram a chegar a partir de 1570.

Inicia-se um complexo arranjo produtivo na colônia Brasil. Ao lado do açúcar e do tabaco, o indivíduo africano tinha seu valor de mercadoria e era amplamente revendido entre os fazendeiros de então.

O tráfico de escravos africanos pelos oceanos Índico e Atlântico representou a morte cultural de diversas nações da África. No Brasil, em menos de um século, a população africana cresceu velozmente. Em pouco tempo, a evolução do capitalismo comercial no sentido da industrialização, demandará a reinvenção do servilismo. Instituído o trabalho assalariado, a escravidão deixa de representar bons negócios.

As interações entre brancos, nativos americanos e africanos passa a desenhar o surgimento de uma nação de características únicas, dado o alto grau de miscigenação entre suas gentes. Esta mistura de culturas e sangues se dá num período em que a nova terra expõe seu brilho dourado e sinaliza, para as nações européias, a existência de uma impressionante fonte de riquezas, capaz de financiar o desenvolvimento daquela revolução que colocou o industrialismo inglês no centro dos impérios europeus, a partir do século XVIII. O ouro brasileiro luze aos olhos europeus.



>> Veja imagens de Rio de Contas.


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