terça-feira, janeiro 31, 2006
IT IN PLACE
domingo, janeiro 29, 2006
Vem cá, vem cá,
simplesmente,
Cara pálida,
continuar
aquilo que
nunca parou.
A gente é
um bocado,
Cara pálida.
Quatro pernas
cinco voltas
nesta página.
Meu bingulin
de repente
vai pro ar
quando te vê.
simplesmente,
Cara pálida,
continuar
aquilo que
nunca parou.
A gente é
um bocado,
Cara pálida.
Quatro pernas
cinco voltas
nesta página.
Meu bingulin
de repente
vai pro ar
quando te vê.
Luchador _ primeira
vestiu meias limpas nos pés sujos
e guardou bem a imagem desta meia
cor de terra, aderente e macia
recebia a gravação de seus passos
a poeira vizinha que varreu de manhã
o xixi do cachorrinho em plena sala
a fumaça do churrasco, a vodca, à tarde
a borracha preta da velha sandália
a meia copiou a impressão
do dia que se acabava
e a levou ao outro, que se iniciava
madrugada, a figura ordinária na festa
barba rala
sapato escuro, cinto claro
jaqueta azul e a meia marrom
camiseta púrpura, com a palavra
luchador, em letra branca, cursiva
conforme indústria cinematográfica.
segunda-feira, janeiro 09, 2006
Eu, a cadela Lisboa e seus seis filhotes _ esboço
Eu hoje tomei os filhotes de Lisboa, repeti o gesto primordial que deu origem ao contrato entre humanos e caninos. Dei-lhes de comer, ração n'água morna. Acariciei-os, um a um. Corrompi-os, e dei o mesmo insumo a eles e à mãe, que comeu, obstinada e apressada, sua porção de comida e parte da que dediquei aos seus filhos. Depois passou a andar em círculos em torno de mim, sentado no beiral da porta. Transtornada, ameaçou vômito umas três vezes.
Sabia eu que ela vomitaria e uivaria, ou ainda me arrancaria um braço para dar aos seus. Todavia, ela me ouviu quando eu disse: eu tenho que fazer isso. Prostrou-se à minha direita, perfilada. Mostrou-me suas tetas cheias e, ao contrário do que imaginei, ainda intactas das dentadas dos cãezinhos e cãezinhas que eu via vorazes, sobre os potes com ração amolecida. Porém ela me mostrava que suas tetas davam leite, e eu lhe perguntei: e sua fadiga? Quanto mais eu deveria esperar? Até que você gritasse por estar mordida por seus filhos?
Ademais, ela não teria espaço maior para fugir deles e a noite é longa. É difícil conciliá-los a ela e a mim, juntos. Não sou pai de Lisboa e tampouco pai dos filhotes. Sou intruso na educação canina.
Depois de um instante de pesar, cabeça baixa sobre sua cama, os filhotes já dormiam, ela voltou até mim, quando eu lhe confessei ser cruel.
Ela não vomitou e os filhotes se aquetaram, lesados... Lisboa cada dia se desumaniza mais.
Sabia eu que ela vomitaria e uivaria, ou ainda me arrancaria um braço para dar aos seus. Todavia, ela me ouviu quando eu disse: eu tenho que fazer isso. Prostrou-se à minha direita, perfilada. Mostrou-me suas tetas cheias e, ao contrário do que imaginei, ainda intactas das dentadas dos cãezinhos e cãezinhas que eu via vorazes, sobre os potes com ração amolecida. Porém ela me mostrava que suas tetas davam leite, e eu lhe perguntei: e sua fadiga? Quanto mais eu deveria esperar? Até que você gritasse por estar mordida por seus filhos?
Ademais, ela não teria espaço maior para fugir deles e a noite é longa. É difícil conciliá-los a ela e a mim, juntos. Não sou pai de Lisboa e tampouco pai dos filhotes. Sou intruso na educação canina.
Depois de um instante de pesar, cabeça baixa sobre sua cama, os filhotes já dormiam, ela voltou até mim, quando eu lhe confessei ser cruel.
Ela não vomitou e os filhotes se aquetaram, lesados... Lisboa cada dia se desumaniza mais.
quarta-feira, janeiro 04, 2006
Muito além da minha arte
Distante tantas horas do seu centro
ainda não escapaste de minha rota
transito ofegante novas nuvens
tu não desistes de maus versos
minha poesia é peça inacabada
moral alguma veleja nas palavras
monte de cara velharia de acrílico
enfeita a mesinha do amigo do meu amigo
de cá me pergunto, absorto:
que querem dizer os objetos?
algo guardado no armário
deteriora-de ou vive plenamente?
aquele que comandar a memória
reformará a própria identidade
estará nas coisas menos que nos outros
e o amor será perfeito reflexo seu
no universo a felicidade reside
muito além de minha arte
seja isso bom ou ruim
melhor ler com cuidado
isto a que chamas poética
nada de mim é inteiro ainda.
ainda não escapaste de minha rota
transito ofegante novas nuvens
tu não desistes de maus versos
minha poesia é peça inacabada
moral alguma veleja nas palavras
monte de cara velharia de acrílico
enfeita a mesinha do amigo do meu amigo
de cá me pergunto, absorto:
que querem dizer os objetos?
algo guardado no armário
deteriora-de ou vive plenamente?
aquele que comandar a memória
reformará a própria identidade
estará nas coisas menos que nos outros
e o amor será perfeito reflexo seu
no universo a felicidade reside
muito além de minha arte
seja isso bom ou ruim
melhor ler com cuidado
isto a que chamas poética
nada de mim é inteiro ainda.