quarta-feira, abril 12, 2006

Tu foste índio?

- Eu cri, tu creste?
- Cri. E daí?
- Daí, apareceu um cavaleiro e me disse: "sai!", e eu vim.
- Nada mais?

- Minha brancura arde ao sol.
- Tu és meio torto. Deve bater mais sol deste lado.
- Nem mo diga, dói muito, mas eu nem sinto.
- Que bom para ti. Em terra de índio tu serias gringo.
- E em não o sendo, sou cafuso, outrossim.
- Não fossem teus olhos, diria-te um preto albino.
- Já me faltava: albino?!
- Em terra de preto, olho apertado e cabelo crespo indica falta de cor.
- Mesmo branco não é branco, é meio rosa. E preto tampouco é preto, reparaste?
- Deveras. Ontem mesmo percebi que a roupa avermelhada avermelhava a pele da preta que vi na rua.
- E o verde esverdeia o branco, repara!
- Eu só acho que pele de índio não combina com azul.
- Mas, índio que é índio anda nu.
- Só se for lá, aqui mais não.
- Lá onde? Tomaram tudo, mataram todos.
- Tu foste índio?
- Eu, aqui, não. Mas, em terra de branco, quem usa enfeite é índio.
- Daí, é pouco dizer que tu não serias um deles, nativo.
- Pode ser. Todavia, o que fazer com a minha lourice?

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